quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Irreal Gabinete



Dizer que o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro é uma visita imperdível é tão banal quanto o Cid Moreira recitando a bíblia dentro da famosa biblioteca em especiais da TV Globo. Ainda assim, foi minha primeira vez e vale o registro. O velho amigo Gino, homem com gosto pelas delicadezas da vida, garantiu uma vez que era o melhor lugar para passar horas estudando no Rio de Janeiro. Talvez do mundo! Enfim... A ideia é essa mesma. Um coliseu de livros coroado por uma abóboda luminosa. Lugar fresco, graças ao teto altíssimo, e a salvo tanto do calor quanto do exagero dos ares-condicionados cariocas. Lindo na sua breguice, no seu neo-gótico manuelino e na sua localização, em frente a uma pracinha de nome Alexandre Herculano (claro...) onde um Camões olha de lado, com o olho ruim, para a porta do lugar.

Campo de Santanna


A praça da República, no Rio de Janeiro, também conhecida pelo nome antigo de Campo de Santanna, marcou outrora os limites da cidade com seu entorno rural. A ocupação mais intensa, entretanto, já é do início do século XIX. Nos anos 1870, a praça foi remodelada seguindo os projetos de um paisagista francês. Os portais que dão acesso à praça são decorados com brasões da República, junto com a data em que começaram as reformas: 1873. Um pouco estranho, de fato...
Na minha breve passagem pelo Rio, passei todos os dias por ali, vindo de um hotel na Praça Tiradentes, indo para o Arquivo Nacional.
O parque é uma joia, com figueiras centenárias maravilhosas com suas raízes barrocas, às vezes rococó. Bem pela manhã, sexagenários ativos usam a praça com algum gosto. Mais gosto ainda os moradores incertos que deitam nos seus gramados à tarde, tentando fugir do sol inclemente sob a sombra das árvores e à beira dos lagos artificiais.
Os moradores permanentes parecem ser mesmo os animais: cotias, patos, algum pavão mais tímido, todos tentando manter a dignidade. E os pombos e gatos, claro, vivendo da generosidade local. Os últimos, estatelados sob o sol, esperam preguiçosamente a ração que uma mão amiga (invariavelmente, ela própria, também necessitada de comida e moradia decente, além de um afago amigo) deita por ali. Claro que pelo estado de alguns gatos, é fácil notar que a vida não é tão confortável, nem a ração amiga tão pródiga.