segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Karl-Marx Allee

Karl-Marx Allee nasceu como projeto em 1949. No início se chamava Stalinallee e o nome ficou até 1962. A ideia era fazer uma verdadeira vitrine da reconstrução soviética: toda uma avenida de confortáveis apartamentos para trabalhadores em maciços prédios de oito andares. O estilo "neo-clássico socialista" ficou conhecido como "Bolo de Noiva": volumes sobrepostos e monocromáticos de gosto um pouco duvidoso. 
Mas, morando como estou a menos de um quarteirão de distância do Frankfurter Tor, um dos marcos da avenina que aparece na foto, não posso negar que tem um certo charme decadente irresistível em tudo isso. Em parte porque é uma área interessantíssima da cidade, com muitos cafés, restaurantes e feiras no fim de semana. Vai ser meu bairro por um ano. 
Felizmente, a homenagem a Marx - que se sobrepôs a homenagem estalinista até com certo atraso em '62 - sobreviveu à queda do Muro. Um certo charme demodé a mais. Será?

Berlin

Sexto dia em Berlin, em plena atividade. Tudo vem dando certo até agora e a cidade no verão tem se mostrado surpreendentemente linda. Digo surpreendente porque a capital alemã é conhecida pelos seus invernos cinzentos mais do que pelos seus céus azuis e mesmo no verão a chuva é a regra. Mas eu não vi uma gota e meus amigos indianos (ah!)  insistem que isso se deve à minha sorte proverbial. É possível, mas não vou me gabar, por que é feio...
De todo modo, ainda não saí por aí a fazer turismo, pois com artigo para terminar, pequenas burocracias pare resolver e outras pendências, não encontrei o tempo. O que não me impede de olhar para os lados e o alto de vez em quando e reconhecer a beleza dos contrastes da cidade, como na foto que vai junto deste post, onde a Marienkirche do século XIV faz companhia à Fernsehturm, a fálica torre de televisão que é a construção mais alta da cidade e do país. Sobre a torre, aliás, se conta uma ótima história: construída como símbolo da tecnologia da antiga República Democrática Alemã, socialista e laica, depois de pronta se descobriu que projetava no chão uma sombra que parece muito com uma cruz gigante. Os berlinenses (ocidentais) chamavam a torre então da "Vingança do Papa"...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Irreal Gabinete



Dizer que o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro é uma visita imperdível é tão banal quanto o Cid Moreira recitando a bíblia dentro da famosa biblioteca em especiais da TV Globo. Ainda assim, foi minha primeira vez e vale o registro. O velho amigo Gino, homem com gosto pelas delicadezas da vida, garantiu uma vez que era o melhor lugar para passar horas estudando no Rio de Janeiro. Talvez do mundo! Enfim... A ideia é essa mesma. Um coliseu de livros coroado por uma abóboda luminosa. Lugar fresco, graças ao teto altíssimo, e a salvo tanto do calor quanto do exagero dos ares-condicionados cariocas. Lindo na sua breguice, no seu neo-gótico manuelino e na sua localização, em frente a uma pracinha de nome Alexandre Herculano (claro...) onde um Camões olha de lado, com o olho ruim, para a porta do lugar.

Campo de Santanna


A praça da República, no Rio de Janeiro, também conhecida pelo nome antigo de Campo de Santanna, marcou outrora os limites da cidade com seu entorno rural. A ocupação mais intensa, entretanto, já é do início do século XIX. Nos anos 1870, a praça foi remodelada seguindo os projetos de um paisagista francês. Os portais que dão acesso à praça são decorados com brasões da República, junto com a data em que começaram as reformas: 1873. Um pouco estranho, de fato...
Na minha breve passagem pelo Rio, passei todos os dias por ali, vindo de um hotel na Praça Tiradentes, indo para o Arquivo Nacional.
O parque é uma joia, com figueiras centenárias maravilhosas com suas raízes barrocas, às vezes rococó. Bem pela manhã, sexagenários ativos usam a praça com algum gosto. Mais gosto ainda os moradores incertos que deitam nos seus gramados à tarde, tentando fugir do sol inclemente sob a sombra das árvores e à beira dos lagos artificiais.
Os moradores permanentes parecem ser mesmo os animais: cotias, patos, algum pavão mais tímido, todos tentando manter a dignidade. E os pombos e gatos, claro, vivendo da generosidade local. Os últimos, estatelados sob o sol, esperam preguiçosamente a ração que uma mão amiga (invariavelmente, ela própria, também necessitada de comida e moradia decente, além de um afago amigo) deita por ali. Claro que pelo estado de alguns gatos, é fácil notar que a vida não é tão confortável, nem a ração amiga tão pródiga.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Travelling alone

Auto-retrato na janela do trem (Cercanias - Madrid/El Escorial), 28.01.2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

La Biblioteca

A Biblioteca do Escorial é uma beleza. Felipe II queria que o lugar tivesse múltiplas funções e a biblioteca ganhou um espaço absolutamente especial, com um teto abobadado e alguns milhares de volumes que reunem desde manuscritos e incunábulos medievais até o fino pensamento católico do período.
Há textos em grego, hebraico e árabe.
Felipe II foi filho de Carlos V e bisneto dos reis católicos. Estes últimos foram responsáveis pela queima de milhares de livros em árabe durante a "Reconquista" católica da Península Ibérica, feita sob a égide intolerante do cristianismo fundamentalista. Este, aliás, nunca deixou de ser importante na Espanha.

Ferramentas


Parece uma sala de instrumentos de tortura, mas é parte do Museu de Arquitetura do Escorial, onde são mostradas reproduções dos projetos para a construção do monastério e das residências, com maquetes e demonstrações dos trabalhos de entalhe e encaixe em pedra, aspectos construtivos e ferramentas.
Uma das partes que me pareceu mais fascinante foi a coleção de ferramentas de carpintaria, cantaria e marcenaria; algumas delas mostradas nas fotos deste post.
Afinal, para quem se interessa mais pelas pessoas que constroem castelos dos que as que moram neles, uma rara coleção como essa é um achado...

El Escorial


O Monastério e as residências dos reis de Espanha formam um conjunto impressionante.
Quando digo "residência" dos reis, leia-se também mausoléu, onde os restos da família real desde os tempos de Felipe II aguardam a eternidade.
Nenhuma simpatia por Carlos V, Felipe II, Felipe IV e outros fascínoras iluminados. Mas, afinal de contas, eles estão mortos e a sempre se pode aproveitar o bom gosto póstumo da nobreza.
Por falar em posteridade, parece que o generalíssimo Franco está enterrado nas redondezas, em um lugar chamado Vale de los Caidos...

DIa de neve e chuva na ladeira


Parti ao meio dia para El Escorial, onde fica o Monastério e a residência real mandado construir por Felipe II no século XVI.
O dia começou chuvoso em Madrir, mas sugeria que talvez o tempo melhorasse. Ledo engano, entretanto. No caminho, do trem, já dava para ver que a noite havia sido de boa nevasca, que passou o resto do dia derretendo em uma temperatura que chegou a perto de 12º.
Bem, a subida da Estação ao El Real Sítio de San Lorenzo de El Escorial é uma ladeira de perto de dois quilômetros. Claro que só descobri isso subindo a tal ladeira, coberta de neve derretendo em meio à lama gelada.
Mas, enfim, é preciso manter o bom humor e tentar extrair alguma beleza da adversidade. As duas fotos aí em cima são minha tentativa sincera de fazer isso. A primeira é posterior à segunda e foi tirada na descida da ladeira, enquanto eu tentava me esconder da chuva gelada em uma parada de ônibus. A combinação da neve derretida e a rua suja produziu um pequeno riacho de água preta que descia carregando os restos imundos da nevasca.
Como eu disse, beleza na adversidade...


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

George Washington´s Cook

O retrato acima foi pintado por Gilbert Stuart em algum momento entre 1795 e 1797. Chama-se "Portrait of George Washington´s Cook" e pertence ao acervo do Museu de Arte Thysen-Bornemisza de Madrid.
O nome do cozinheiro (informação garimpável na internet) era Hércules!! Era escravo da família Washington e famoso pela sua ótima habilidade na cozinha, bem como pelo carisma e pelo gosto por roupas elegantes. Entretanto, parece que Hércules não estava tão satisfeito assim em ser o cozinheiro preferido do "Founding Father" e presidente dos Estados Unidos por duas vezes, Washington. Em fevereiro de 1797, depois de várias fugas frustradas, Hércules fugiu de vez de Mount Vernon - sede da claudicante plantation escravista de Washington na Virginia e nunca mais voltou. Há histórias mirabolantes sobre Hércules, ainda por provar. O fato é que Washington libertou todos os seus escravos remanescentes depois da sua morte e da esposa (fim da ambígua relação dele com a instituição escravista). Hércules foi libertado in absentia...

Reina Sofia

O "Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia" está instalado na sede de um antigo hospital do século XVIII (mas, pela grossura das barras das janelas, poderia muito bem ter sido uma prisã0), perto de Atocha, em Madrid. A primeira vez que vim aqui foi, muito provavelmente, em 1993 (já que, pelo que consta, ele foi inaugurado no ano anterior). Tinham acabado de transferir a "Guernica" de Picasso, que havia ficado exposta por uma década em uma extensão do Museu do Prado cheia de aparatos de segurança (onde eu a havia visto dois anos antes).
No começo, o que impressionava eram os cenográficos elevadores modernos montados sobre o velho prédio. Hoje, depois do acréscimo maravilhoso de Jean Nouvel, inaugurado em 2005 (tema da foto acima), o lugar ficou extraordinário. O forte continua sendo a vigorosa pintura espanhola do século XX, mas há também sempre exposições temporárias excelentes.
Ontem, quarta-feira, passeei atento pela exposição intitulada "Atlas: ¿Como llevar el mundo a cuestas?", uma montagem explicitamente inspirada em Aby Warburg, explorando os múltiplos sentidos da imagem de Atlas. O titã que, junto com seu irmão Prometeu, quis roubar os conhecimentos dos deuses e dá-los aos homens, teria sido condenado a carregar o peso da abóboda celeste nas costas. De acordo com a lenda (assim diz o prospecto da exposição), a tarefa a que foi condenado lhe fez adquirir um conhecimento insustentável e uma sabedoria desesperadora. A imagem do homem que carrega o mundo (ou o céu) nas costas, configura uma dessas "fórmulas emotivas" (pathosformelm) que tanto interessaram Warburg nas suas pesquisas sobre a cultura do Renascimento. Do mesmo modo, é uma imagem contida no próprio trabalho do historiador da arte alemão...
De todo modo, achei a exposição ótima, ainda que a justificativa geral tenha ficado um pouco "pós-moderna" demais para o meu gosto...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Back to Madrid


Dia lindo em Madrid...
Em cima, terça-feira algum lugar entre o Reina Sofia e a Puerta del Sol. Abaixo, na própria.
Mas o mais importante:
Ontem, o pau pegou no Cairo!!!

domingo, 23 de janeiro de 2011

Cola...


Cocacola local, profundamente alemã...
Vai muito bem com um Döhner super-berlinense (naturalmente, um sanduba turco).
Alfwiedersen!

Brandenburg Tor


De volta a Berlin, com um pouco de neve e menos frio do que poderia estar (sólidos 0º, entretanto), agradável caminhada noturna pelos arredores de Unter den Linden. O Portão de Brandenburg (do final do século XVIII) foi uma das portas da cidade e também, durante a guerra fria, uma lembrança triste de uma das suas mais belas avenidas, cortada pelo muro. Junto, o Tiergarten, lindo bosque urbano que ajuda a fazer de Berlin uma das cidades mais verdes da Europa.
O que me faz lembrar da surpresa da noite, procurando um lugar para jantar Mehringdamm, uma raposa assustada atravessou o passeio. Enfim, Berlin...

OBS: Acima, visão lateral do Bradenburg Tor. Abaixo, visto desde o Unter den Linden

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Berlin


Outra imagem de Berlin, com a torre de tv ao fundo (perto de Alexanderplatz).

Berlin Alexanderplatz

Cheguei em Berlin na noite da segunda-feira, 17 de janeiro. Vim reconhecer a cidade onde vou passar um ano a partir de agosto.
Minha primeira e última vez por aqui foi em 1991... Poucos anos depois da derrubada do ¨muro¨ e nos primeiríssimos instantes do conjunto de transformações (ainda em curso) que a cidade iria passar nos 20 anos seguintes.
Minha primeira impressão então havia sido boa, ainda que as circunstâncias não fossem ideais (sozinho, sem grana e sem entender uma palavra do idioma). Agora, a cidade me parece ainda mais convidativa, ainda que com um caráter um tanto ambìguo, indeciso. Simboliza isso sobretudo um lugar como Alexanderplatz, coração da antiga Berlin Oriental, que me pareceu francamente desoladora em 91. Hoje, um tremendo shopping center a céu aberto, praticamente irreconhecível. Talvez não tão desoladora, mas também certamente não o lugar mais inspirador da cidade...
De todo modo, muita gente já falou sobre como esta é a capital mais vibrante da Europa hoje (e não há motivos para duvidar): a sensação é certamente muito diferente de outras partes do continente. Sobretudo, bastante distante ainda daquela impressão de "butique" que cidades como Paris ou mesmo Madrid dão. É toda uma outra coisa por aqui, sobretudo se você sai dos roteiros mais óbvios. Meu namoro com a cidade está, de todo modo, apenas (re)começando.

Diversificando


Isso explicaria muita coisa...

Plaza Mayor

Um blog de um "turista estrutural" deve sucumbir, uma hora ou outra, a simples celebração de viajar. Afinal, nem sempre se pode estar à altura da pretensão implicada na ideia de escrever algo assim, divulgar em uma rede supostamente mundial e ainda esperar que alguém leia...
E tenho dito...

Tauromaquia


Sadomasoquismo faz parte do universo cultural ibérico, como todos sabemos (desgraçadamente, pela parte católica que eventualmente nos toca). Neste restaurante em Madrid, cheio de cabeças triunfantes de touros caídos em nome do dever, essa lembrança ganha tons particularmente tétricos. Não, eu não pedi nada do cardápio (pelo menos nada sólido...)

El rastro


Essa feira ao ar livre não chega a ter aquele charme bonairense de Santelmo (insuperável, na minha opinião), mas é realmente uma lembrança agradável de Madrid. Insuperáveis são as tapas que fazem a alegria de um pobre sujeito como eu...
De todo modo, sempre se pode achar imagens sugestivas, como essa estranha combinação de porcos do mato, leões e sadomasoquistas pendurados...

Madri, janeiro de 2011

Madrid, 14 de janeiro de 2011. Não façam caso da data da fotografia... Trata-se da Puerta del Sol, em Madrid, onde cheguei na sexta-feira, em um mixto de viagem de férias cum participação em conferência (o que não chega a ser uma verdadeira novidade). A novidade mesmo é chegar nessa cidade quase onze anos depois que estive aqui da última vez. Outra vida, quase...
Cidade linda, acolhedora e, por isso mesmo, completamente diferente do que eu lembrava. Desconfio que melhorei eu, não a cidade...
Na foto, o caso curioso do único letreiro comercial tombado da España, talvez do mundo: o letreiro clássico de uma marca de jerez espanhola. O "sol da Andalucia engarrafado" merece sozinho um lugar na imaginação de qualquer visitante da cidade...

Post-Scriptum: Aí em cima tem uma mentira deslavada. Não é o único letreiro tombado da Espanha. Há outros. Fui corrigido...

domingo, 2 de janeiro de 2011

Veneza, 1993.


Antigo diapositivo, recuperado do fundo do baú...