São 3400 metros de altitude. No topo, um templo hindu, que está sendo reconstruído. Mas mesmo ali, bastante gente. Guias se dispondo a fazer passeios nas montanhas por preços módicos. Há até algumas facilidades culinárias, sobre as quais falarei adiante...
terça-feira, 30 de março de 2010
Hatu Peak
São 3400 metros de altitude. No topo, um templo hindu, que está sendo reconstruído. Mas mesmo ali, bastante gente. Guias se dispondo a fazer passeios nas montanhas por preços módicos. Há até algumas facilidades culinárias, sobre as quais falarei adiante...
Na montanha
Subindo os Himalaias
No sábado, 29 de março, contratamos um cara para nos levar de carro até Narkanda. A viagem, ida e volta, das 8 da manhã às 6 da tarde, não custou mais de 80 reais. Se fossemos de ônibus, seria mais barato que banana. É um turismo barato, se você consegue chegar aqui.
Himachal Pradesh
Muita gente do Nepal fugiu para esta região depois da anexação pela China. O "pequeno Tibet" fica em algum lugar por aqui, mas a gente vê muita gente de lá. Ao contrário do que eu imaginava, mesmo aqui o budismo não é muito difundido e a gente vê algumas imagens do Dalai Lama em um contexto que é mais hinduísta do que qualquer coisa.
comércio do exótico
Eu ainda não havia visto, porque em Delhi não tem mais. Em alguns lugares, há pessoas que fazem pequenos espetáculos com animais, em troca de dinheiro. Eu li que os movimentos pelos direitos dos animais tornaram algumas dessas práticas ilegais. Alguns artistas se tornaram mendigos e em outros casos, eles fantasiam as crianças de ursos e macacos para fazer os jogos e pedir dinheiro. O cobertor moral é curto, como se vê...
नमस्ते por hoje...
Depois do último post em estilo "relatório Capes", aí vai uma última foto do IIAS, antes de dormir. Imagino no inverno, com tudo coberto de neve e a vista limpa para os Himalaias ao fundo...
Conferência no Centro Indiano de Estudos Avançados em 26 de março
A conferência aconteceu na sala em que Gandhi, Nehru e Mohammed Jinna se encontraram várias vezes em 1947 e decidiram os termos da "partição" que deu origem aos estados da India e do Paquistão do pós-independência.
Pakhoras in the morning
Nada de sucrilhos e mamãozinho. Os indianos gostam mesmo é de comer algo frito, gorduroso e bem temperado.
Indian Institute for Advanced Studies
O centro de estudos avançados ocupa o espaço do antigo Vice-Regal Lodge. Inaugurado em 1888, o prédio fica em um lugar chamado "Observatory Hill", o que dá uma boa ideia da vista privilegiada que tem. Dezenas de turistas passam por aqui, mas não podem passar do outrora suntuoso "lobby" entalhado em "teca" (Tectona grandis).
Rododendros
Impressionantes essas árvores com lindas flores vermelhas. Elas pintam as colinas cheias de cedros do Líbano, plantados pelos ingleses no século XIX.
Macacos
Não faltam macacos por aqui. Em Delhi já não se vê muitos, mas em Shimla estão por todos os lados. Algumas pessoas andam com bengalas ou pedaços de pau, só para espantar os bichos. Aparentemente, as mulheres são as vítimas preferenciais.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Shimla 2
Shimla
O nome sugere algo de etéreo, não? Shimla... capital do Himachal Pradesh, nas franjas do Himalaia.
Rodoviária
quarta-feira, 24 de março de 2010
Conferência na University of Delhi, 22 de março
Na segunda-feira, 22 de março, fiz a primeira "lecture" dessa jornada. Na verdade foi mais uma conversa com alguns alunos da pós-graduação e um punhado deprofessores do departamento de história. Não apresentei nenhuma das duas conferências que preparei, mas falei sobre Carlo Ginzburg, que era o que eles estavam com vontade de ouvir. Comigo, Prabhu e Basudev Chatterji na mesa. Os alunos, como sempre, cheios de atenção e sharp questions.
Cidade de imigrantes
Delhi é maior do que São Paulo. Simples assim.
नमस्ते e शुक्रिया
नमस्ते !!!
शुक्रिया
Tumba de Humayun
Delhi tem uns lugares lindos. O fim de tarde no parque onde está a tumba do segundo imperador Mughal dá a impressão de que se está em outro lugar. Quase não se nota a cidade caótica e poluída. O senso de prooporção, de orientação espacial, de assentamento, é impressionante. A arquitetura desses extraordinários conquistadores persas é absolutamente perfeita, assim como o fantástico sistema de circulação de água, que garantia que mesmo os terríveis dias de calor (como foi este dia) fossem mais amenos...
O Gato...
A India é campeã do "gato". Talvez os brasileiros é que tenham inventado essa forma curiosa e perigosa de "subtração" de energia da rede pública, mas foram os indianos que a transformaram em uma forma de arte. Confira a foto e me diga se estou errado...
Old Delhi
"Old Delhi" não é, como parece, o bairro mais antigo de Delhi. Mas a Delhi dos Mughals é bem ali: o Forte Vermelho, Yama Masjid (a maior mesquita da India), os bazares de jóias e bijuterias, os mercados de carne (com suas perturbadoras cabeças decepadas de bodes e outras iguarias).
Commonwealth Games
Ainda sob o impacto da vitória de Obama no congresso americano (20 milhões de pessoas passarão a contar, se tudo der certo, com cobertura do sistema de saúde), dá para pensar um pouco em termos comparativos. O Brasil tem o SUS, que é uma coisa impressionante (só os brasileiros não acham) e os EUA, se tudo der certo (de novo...), vão ter algo parecido. A India não tem nada parecido, nem a sombra disso. Aliás, nem a China...
terça-feira, 23 de março de 2010
Nizzamudim Dargah
"Dargah" é um lugar de oração, um templo construído sobre o túmulo de um homem santo "sufi". O sufismo é uma antiga tradição ligada ao islamismo, uma espécie de islamismo místico, em confronto com o islamismo mundano e, sobretudo, muito diferente do islamismo fundamentalista que vem ganhando força em muitos lugares. Um dos princípios do sufismo é a busca de uma relação direta com a divindade, sem passar por mulás e outros intermediários. Entrar em um lugar como a dargah sobre o túmulo de Khwaja Nizzamudim (que viveu e morreu por ali no século XIV) é fascinante. Fica em uma dessas muitas aldeias urbanas de Delhi: uma ruela cheia de gente cozinhando e falando alto, pequenos restaurantes de trabalhadores, dezenas de pedintes, uma comunidade islâmica encravada por séculos em uma área antiga da cidade. No meio disso tudo, um bazar, vendedores de flores e um portal identificando o lugar. Por ali, um longo corredor cheio de zigues e zagues e gente, que acaba em um espaço aberto com tapetes no chão e ainda mais gente, homens, mulheres e muitas crianças. Os homens sentados, cantando e tocando instrumentos. No centro, uma sala com o túmulo e uma fila de peregrinos. As mulheres não podem entrar nesse pequeno espaço onde está o túmulo onde entrei, com a cabeça coberta e um prato com rosas, cujas pétalas as pessoas jogam para homenagear Nizzamudim.Depois sentei no tapete, ouvindo a música e vendo tudo aquilo: muitos homens com kurtas de algodão, com a cabeça coberta, todos de pés descalços como eu. Mas também alguns jovens com cabelos e roupas no estilo dos filmes de bollywood. Podia ficar horas ali...
Each day a new dessert
A coisa em hindi (mas talvez seja a mesma coisa em urdu) é mais ou menos assim:
Sobre a viagem em si...
Voltando um pouquinho:
Conference
conferência começou no dia 18 e terminou no dia 20. 3 dias intensos, com cerca de 40 papers, umas 70 pessoas entre apresentadores, comentadores, curiosos. Gente de vários lugares, África do Sul, França, Holanda, Indonésia, EUA, Alemanha. Eu do Brasil (e, desta vez, só eu). 20 páginas de ideias escritas. É provavelmente minha conferência preferida, pela qualidade das intervenções, a informalidade, a discussão intensa (mas sempre respeitosa). Nada parecido no Brasil, nem na maior parte dos lugares. Apesar de Noida, apesar da seca, dos mosquitos, da água parada, vou continuar vindo.
NOIDA and beyond...
Contrariando as minhas expectativas, peguei minhas malas e parti de novo para a India. Segunda vez, na verdade. Na primeira, em 2008, foi para participar de uma conferência organizada pela Association of Indian Labour Historians (AILH). Aquele havia sido meu primeiro contato direto com a India. Uma experiência semi-traumática, como muitas que a gente tem nesse sub-continente. Especialmente quando se chega a uma cidade como Delhi: uma megalópole superpoluída cujo trânsito, as condições sanitárias e a pobreza às vezes me faz ter saudade do Rio de Janeiro e de São Paulo (é claro que às vezes eu tenho saudades dessas cidades, mas por razões completamente diferentes).
segunda-feira, 22 de março de 2010
Discurso de paraninfo, 12 de março de 2010
Nunca havia sido convidado para paraninfo antes e tive que quebrar um pouco a cabeça para não ficar muito feio. O que saiu segue abaixo.
O tom talvez seja um pouco melodramático, mas acho que é inevitável nessas circunstâncias. Como não sei se vai ter um segundo discurso, aproveito para colocar esse aí em circulação. Ao menos os formandos tem o registro, sei lá.
Abraço a todos e obrigado pelo convite.
ps: a formatura aconteceu no dia 12 de março de 2010
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao convite para ser o Paraninfo da turma de formandos do curso de História do segundo semestre de 2009. Turma Paulo Pinheiro Machado.
Começo com um lugar comum, que é atestar a satisfação pelo convite e pelo que significa, isto é, a escolha do paraninfo, assim como dos demais homenageados aqui presentes, deve testemunhar de algum modo o apreço dos formandos que o escolhem.
O paraninfo é, por definição, uma espécie de padrinho ou preceptor. Confesso, entretanto, que tenho dificuldade de me ver nesse papel tão paternal. Na verdade, gosto de pensar que a metáfora familiar não é a mais adequada para explicar os laços que ligam professores e estudantes. Nessa grande viagem coletiva que é o aprendizado, o conhecimento, a descoberta, o professor ocupa, no melhor dos casos, o lugar do viajante experiente, que divide suas impressões de viagem, suas descobertas próprias e outras que aprende no caminho. Divide seus apontamentos de percurso, seus mapas e seus portulanos com aqueles que estão se preparando para fazer suas próprias viagens. Algumas viagens serão curtas, outras longas, alguns talvez nem cheguem a tomar coragem para sair de perto da costa ou mesmo sair do porto. Outros ainda vão viajar a lugares que os seus velhos mestres nunca sonhariam em ir.
Assim, seguindo a metáfora da viagem, a escolha do paraninfo talvez seja o reconhecimento da trajetória, do percurso empreendido até agora pelo viajante, um viajante a quem se pede, nesse momento, uma palavra de encorajamento, ou quem sabe de alerta. Assumo os riscos, então, dessa tarefa.
Assim, começo com os meus parabéns. Neste momento a Universidade –a universidade pública e gratuita da qual vocês fizeram parte nos últimos anos – lhes confere seu diploma, que nada mais é do que um passaporte. Um passaporte e um título: historiadores.
O título não lhes dá uma profissão ou uma carreira, mas apenas reconhece que vocês estão agora habilitados para se engajar em sua própria viagem como pesquisadores e professores de história. A viagem, posso lhes assegurar, não será fácil. Mas as viagens que valem a pena nunca são.
Como educadores, vocês encontrarão pela frente o resultado de muito tempo de descaso com esse patrimônio precioso que é o saber e o aprendizado. Tempo demais. Vocês viveram isso como estudantes, e viverão como professores.
As muitas palavras que escutamos todos os dias sobre a importância da educação se mostram frequentemente vazias quando constatamos que a profissão de educador continua a ser vista como um mero apêndice, uma tarefa sem prestígio, sem reconhecimento material e com um reconhecimento simbólico cada vez mais reduzido. Isso é verdade certamente no mundo da educação pública onde muitos de vocês se engajarão, mas a escola privada não apresenta um panorama tão distinto.
O futuro? Não se sabe. É possível que a tarefa republicana de pagar a dívida enorme que a Nação contraiu com aqueles que a construíram, os trabalhadores, homens e mulheres, negros, mestiços e pobres de todas as cores, um dia se torne de fato, como todos desejamos, o eixo central de um projeto de refundação histórica de nós mesmos. O papel da educação nesse projeto possível será sem dúvida essencial e só isso justifica em muito a escolha , a vocação de educador, de professor.
Mas é preciso acrescentar que a história humana não nos dá muitos motivos para otimismo. Se há algo que ela nos ensina de fato é que não devemos esperar que o futuro nos traga algo que nós mesmos não nos esforcemos por arrancar dele.
Por isso, minha sugestão é que abracem com força a missão de brigar pela ampliação do papel da educação em nossa vida republicana, uma educação inclusiva que reconheça e valorize o esforço individual e o mérito, marcada pela qualidade, seriedade e entusiasmo. Uma educação que seja também de fato democrática em seu sentido pleno, isto é, que seja um patrimônio coletivo e não o privilégio de alguns.
Tarefa inglória? Talvez. Mas ninguém fará essa tarefa por nós. Nós somos parte do futuro, como cidadãos e como historiadores. Não há como fugir dele.
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Como historiadores, temos uma responsabilidade a mais.
Os historiadores, na verdade, têm dificuldade de acreditar em fantasmas. Nós sabemos, no íntimo, que não são os mortos que assombram os vivos, mas o contrário. São os vivos que não deixam os mortos em paz, querendo extrair das suas bocas há muito tempo fechadas as justificativas do presente.
A demanda pela história não cessa e dos historiadores muitas vezes se espera que cumpram docilmente a tarefa de serem os fiadores das demandas políticas, identitárias, afetivas e morais dos homens e mulheres de hoje. São demandas legítimas muitas vezes, e há quem se disponha de boa fé a exercer esse papel.
A história faz parte do seu próprio tempo e não pode escapar dele. Não há como fugir a essa demanda civil pela história. Mas isso não significa que os historiadores estão condenados a justificar seu tempo. A lição da história é outra e deveríamos sempre nos lembrar disso. A história não justifica nada.
A história não explica o passado, a história não extrai do passado as respostas do presente. Ao contrário: o estudo da história torna mais complexo o presente, complica o quadro de explicação do nosso próprio mundo, insere a dúvida e nos permite tomar distância do nosso próprio tempo. E essa é a grande qualidade da história, a grande missão intelectual e política da história. Ela expande e torna mais aguda a consciência da nossa própria responsabilidade sobre o presente e isso revela a forte densidade política da discussão histórica.
Assim, meu convite a vocês, jovens historiadores e jovens professores de história, é que se lancem nesse oceano de incertezas com entusiasmo e vontade.
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Não teria, na verdade, cumprido meu papel como paraninfo aqui se simplesmente me limitasse a apontar os desafios e dificuldades do caminho.
Nesse meu felizmente breve discurso há lugar ainda para falar um pouco sobre o outro lado da viagem.
Disse um pouco antes que a história não nos autoriza o otimismo. Mas eu deveria acrescentar: é pedir demais da história que ela faça isso. O otimismo, ou pelo menos o otimismo da ação, há de ser um valor a se cultivar na vida e na prática profissional que, aliás, faz parte da vida (ainda que, muitas vezes, a gente se esqueça disso).
Assim, não gostaria que a minha mensagem hoje fosse ouvida como uma mensagem sombria e desencantada. Ao contrário, acho muito sinceramente que o desafio, a incerteza, a dúvida que são parte fundamental da nossa existência podem ser também um motivador extraordinário.
O caminho escolhido por vocês, de se tornarem historiadores e educadores, professores de história, é cheio de oportunidades. Eu acredito nisso sinceramente.
Oportunidades de conhecimento, de descoberta, de encontros. Mas essas oportunidades não serão nada se vocês não se desafiarem, não tenham a ousadia de buscar, de se arriscar, de tentar descobrir lugares, experiências, ideias diferentes daquelas que vocês já conhecem, diferentes daquelas (quem sabe?) que os seus professores ensinaram.
A partir daí se descortina um horizonte de novidade e, é claro, sempre, mais uma vez, de incerteza e de risco. Mas qual é a alternativa? Não se contentem, então, com a mediocridade, com a falta de imaginação, com a auto-condescendência. Não fiquem medrosos, refugiados no porto.
Enfim, é isso. No início deste discurso falei que vocês conquistaram um passaporte, o seu diploma.
Ora, o passaporte é o documento do viajante, é a autorização para que ele parta para lugares distantes. Meu único desejo é que cada um de vocês reúna a coragem necessária para fazer valer esse passaporte que têm entre as mãos. O seu prazo de validade dependerá apenas de vocês. Boa viagem.
Obrigado.